Reflexão

Se quiser me reconquistar, não tente descobri a razão que te levou a me perder, e sim a razão que me levou a te amar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Lampião não morreu em Angicos e viveu até os 96 anos, diz escritor

Depois de Elvis Presley, Raul Seixas e até Michael Jackson, quem diria, até Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, considerado o maior cangaceiro de todos os tempos, não morreu! Quer dizer, pelo menos não da maneira como a maioria das pessoas conhece e que está relatada nos livros de história: durante um tiroteio, na emboscada de Angicos, em Sergipe, em 1938. Logo após esse célebre episódio, Virgulino Ferreira teria vivido como comerciante e fazendeiro no Norte de Minas, e morreu com 96 anos, em 1993, em Buritis (MG). Isso é o que garante o escritor, pesquisador e fotógrafo José Geraldo Aguiar, 60 anos, autor do livro Lampião, o invencível: duas vidas e duas mortes (Editora Thesaurus).

Na obra, Aguiar expõe o 'outro lado da moeda' e mostra por meio de entrevistas, documentos e até depoimentos do suposto Lampião sobre como se deu essa sobrevida. "O que para o homem sábio é descoberta, para os outros pode ser loucura. Muita gente acha que sou louco, mas muitos acreditam em mim. Foram 17 anos de muita pesquisa e um árduo trabalho e eu tenho a convicção de que o homem que conheci e convivi durante cinco meses era realmente o Lampião", assegura o escritor.

José Geraldo Aguiar sempre foi um grande admirador do "senhor absoluto do Sertão" e, vez por outra, ouvia rumores de que havia um homem em sua cidade, São Francisco (MG), à beira do rio de mesmo nome, que todos julgavam ser Lampião. "O Rio São Francisco era a estrada do Sertão. Então, vários cangaceiros acabaram indo para essas bandas. Logo após a batalha de Angicos, em que ele foi dado como morto. Lampião fugiu, passou pela Bahia, Piauí, até que, em 1950, ele e Maria Bonita acabaram se estabelecendo em Minas. Ele viveu na clandestinidade e chegou a ter 13 identidades falsas", afirma o pesquisador.

Segundo a versão de Aguiar, Lampião era um sujeito muito astuto, inteligente e não condizia com seu temperamento ser morto da maneira que foi, com um tiro, e degolado, posteriormente. "Ele fugiu. Ele era uma pessoa de famamundial. A morte dele foi uma farsa. Uma satisfação à sociedade. Ele disse a seus comandados que iria fazer uma grande viagem. E tenho inúmeros depoimentos no meu livro que comprovam essa versão de que ele realmente viveu em Minas até os 90 anos", enfatiza. E com relação à famosa cabeça que seria de Lampião e que foi, inclusive, fotografada? "Não era dele. Abordo isso no meu livro também. Temos até historiadores que afirmam de que aquela cabeça pertencia, na verdade, a um outro cangaceiro, de nome Zé do Sapo", diz .

O autor defende com unhas e dentes sua versão sobre a outra morte do famoso capitão e narra com detalhes os seus encontros com ele. Não foram fáceis, mas a profunda admiração de Aguiar pelo cangaceiro foi o fator preponderante para que ele ganhasse a confiança definitiva de Lampião, como ele relata no livro: "Em meio aos comentários sobre gostos e costumes, soltei que a história de Lampião era a que mais me atraía. Ante a pronúncia do nome, olhou-me de maneira diferente e pediu que eu permanecesse mais tempo ali. Mas como não podia ficar, acompanhou-me até a porta, de onde, tirando os óculos escuros, convidou: "Volte amanhã, cabra. Ao virar para trás e aceder o convite, percebi que seu olho direito era quase fechado."

"Foi uma conversa muito difícil, ele não se revelou de cara. Era um homem muito sério, sisudo e depois de algum tempo, disse que após a sua morte, eu estava autorizado a revelar ao mundo a sua sobrevida. Foi o que fiz, apesar de ainda hoje viver sob ameaça", revelou, sem querer entrar em detalhes. Na obra, há um trecho em que a filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes, conta o motivo de ter se recusado a fazer um exame de DNA para comprovar que aquele senhor que vivia no Sertão mineiro era o seu pai. Expedita declarou que não perderia tempo com aquela história e disse mais: "O meu pai, o que eu conheço pela história, era um homem, não um frouxo, nem um covarde para viver esse tempo todo fugindo".

Segundo Aguiar, é natural que os descendentes do cangaceiro não queiram falar no assunto, e que alguns deles realmente mudam de prosa quando se toca no nome Lampião. Mas garante não se importar. "A história dele sempre teve muito mistério, afinal, é um mito. É normal a família não querer ficar remoendo nisso. Mas eu me sinto muito feliz e privilegiado de ter revelado toda essa história", garante.

Por Ana Clara Brant, do Correio Braziliense

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