Irreverente frasista e polemista assumido, Romário viveu intensamente seus mais de 20 anos de jogador profissional. Passou dos mil gols, acumulou títulos e dinheiro suficiente para não ter problemas financeiros hoje - ele garante. Fez desafetos e bem poucos amigos no futebol - como também confessa. O esporte lhe deu fama, prestígio e mulheres, muitas - assinala. E com elas teve experiências incomuns, inusitadas, como revela nesta entrevista exclusiva dada pelo craque na Barra.
O GLOBO: Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
ROMÁRIO: Tive momentos que guardo com muito carinho. O título carioca invicto com o Flamengo em 1996; a final da Copa Mercosul, com o Vasco, quando vencemos o Palmeiras de virada com três gols meus; o título espanhol com o Barcelona. Mas nada supera aquele momento em que o Dunga me passou a taça de campeão do mundo, na Copa de 94. É o fato mais importante da minha vida profissional, o mais feliz.
E o mais triste?
ROMÁRIO: A maior decepção foi o corte em 98. Aquele momento ali, em que eu sentei para dar a coletiva, foi o momento mais triste da minha carreira.
Na época você ficou magoado com o Zico.
ROMÁRIO: Para mim, o maior responsável pelo meu corte era o Zico. Mas passaram anos e, no ano retrasado, ele veio ao Rio e falou um monte de coisas. Abriu o coração. E uma das coisas que ele falou foi que não teve culpa no corte, e que ficou tudo na conta dele. Disse que eu tinha ficado puto com ele sem razão. A partir dali, tirei da minha cabeça que tinha sido o Zico.
Quem foi o responsável?
ROMÁRIO: Quem me tirou daquela Copa foram o Zagallo, que era treinador, o América Faria, o supervisor, e o maior responsável de todos, o Lídio Toledo, que era o médico. Ele tinha que assumir a porra da posição, e mais uma vez não assumiu.
Pode ter alguma coisa a ver com a Copa de 90, quando você levou Nílton Petroni (fisioterapeuta) para a seleção e ele não gostou?
ROMÁRIO: Pode ser, mas a gente conviveu bem depois daquilo. Até o dia anterior ao corte, o Lídio era quem mais me dava força. Acho que não teve voz ativa. Não bateu na mesa e disse que ia me curar a tempo. Em 94, ele falou isso do Branco...
" Em 98, fiquei de fora por causa do corte; em 2002, a razão foi o Felipão ter acreditado em pessoas que garantiram que eu o traí "
Mesmo tendo sido campeão do mundo em 94, você acha que poderia ter feito mais na seleção?
ROMÁRIO: Eu poderia ter disputado mais duas Copas, em 98 e 2002. Em 98, fiquei de fora por causa do corte; em 2002, a razão foi o Felipão ter acreditado em pessoas que garantiram que eu o traí.
O que aconteceu então?
ROMÁRIO: Houve duas histórias. A primeira, da operação na vista, disseram que não queria ir à Copa América (2001). Na verdade, ia operar mesmo, só que, quando o médico Clóvis Munhoz (do Vasco) me levou a um oftalmologista, o cara falou que eu tinha que operar, mas não havia tanta urgência. Então, fiquei treinando. Quando isso aconteceu, a seleção já tinha viajado.
E a outra...
ROMÁRIO: A outra história foi que eu tinha transado com uma aeromoça antes do jogo com o Uruguai, pelas eliminatórias, em Montevidéu. Aliás, foi o único jogo que fiz pela seleção com o Felipão.
Romário disse que o melhor momento da sua carreira foi o título mundial de 1994 - Cezar Loureiro
Mas você pegou a aeromoça?
ROMÁRIO: Isso foi em 2002 e hoje estamos em 2010. Poderia muito bem falar que tinha acontecido. Mas não aconteceu. Se fiquei de fora da Copa por causa disso, perdi duas vezes. Não fui à Copa e não comi a aeromoça, que era a maior gostosa...
Como foi a sua relação com os técnicos durante a carreira?
ROMÁRIO: Cara, tive muitos problemas com alguns treinadores, mas não tive com outros. Por exemplo, com Cruyff não tive porra nenhuma de problema. Com o Joel, nunca tive problema. Também não tive com Oswaldo (Oliveira), Edinho, Júnior. Com o próprio Parreira...
Mas qual foi o mais difícil, aquele que quase te fez chutar o balde?
ROMÁRIO: Teve o Gílson Nunes, que me cortou da seleção sub-20 antes do Mundial de 85. Ele não foi firme comigo. Confiou num papo de um supervisor. O cara entrou numa sala no hotel em que estávamos concentrados em Copacabana. Eu, Müller e Denílson estávamos realmente mexendo com as meninas que passavam lá embaixo. O tal supervisor deu o flagrante no Denílson e no Müller, pois eu estava no banheiro na hora. No fim, só eu fui cortado da seleção.
E o Vanderlei Luxemburgo?
ROMÁRIO: Foram apenas seis meses de relacionamento. Ali a gente errou por igual. Eu estava voltando ao Rio, tinha sido campeão do mundo. Tinha 28 anos e achava que podia tudo. E o Vanderlei, já naquela época, se achando o melhor técnico do mundo. Ele queria me confrontar. Queria aparecer mais do que algumas pessoas, no caso eu. Tivemos um comportamento egoísta. Ele se prejudicou, eu me prejudiquei e acabamos prejudicando o Flamengo.
E qual foi seu pior treinador?
" Ele não sabia de tática, ele não sabia de técnica, ele não sabia dar uma preleção. Ele se perdia, escalava os jogadores errados "
ROMÁRIO: Cláudio Garcia. Esse treinador é uma merda. Desculpe a expressão, até tinha prometido a minha mulher que não ia falar palavrão, mas não aguento. Era uma merda.
Por quê?
ROMÁRIO: Porque ele não sabia de tática, ele não sabia de técnica, ele não sabia dar uma preleção. Ele se perdia, escalava os jogadores errados.
Você fez amigo no futebol?
ROMÁRIO: Amigo, na minha concepção, é aquele cara que está próximo de você, não precisa nem ser no dia a dia. As pessoas com quem mais me relaciono são jogadores da antiga do Vasco: Mauricinho, Geovani, Paulo Roberto, Lira e também o Mazinho. Hoje tem o Léo Moura, o Leonardo Inácio, o Bruno Reis e o Alex Dias.
É difícil fazer amigo no futebol?
ROMÁRIO: Olha, para ser sincero, amigo mesmo não fiz no futebol. Aliás, Celso Barros foi o único cara que conheci no futebol e virou meu amigo.
Por que é assim?
ROMÁRIO: Porque no futebol as pessoas têm sempre um interesse que você não consegue visualizar de cara. Ninguém procura, na pureza, ser seu amigo. Quando você está em cima, no topo, a maioria das pessoas se aproxima com algum tipo de interesse. Muitos chegaram sem interesse, mas nem por isso se tornaram meus amigos.
Você já brigou com alguma companheiro de time?
ROMÁRIO: Claro. Teve aquela briga com o Andrei (zagueiro do Fluminense) dentro de campo contra o São Paulo. Também sai na porrada com Júnior Baiano, Jorge Luís, Ronaldão, Sávio e Edmundo...
Saiu no tapa com todos eles?
ROMÁRIO: É. Com o Edmundo nunca foi de mão, não.
Como foi a briga com o Sávio?
ROMÁRIO: Eu o empurrei, dei um tapa nele e ficou por isso mesmo. Com Jorge Luís, briguei no vestiário. Também foi assim com Júnior Baiano e com o Ronaldão... Só arrumei porrada ruim para mim: Jorge Luís, Júnior Baiano, Ronaldão (risos), esses são os caras...
E qual a razão destas brigas?
ROMÁRIO: Estresse, cabeça quente. Nem sei se todas foram depois de derrota. Mas hoje com certeza não faria. Se você perguntar se me arrependo, a resposta é não. Não me arrependo de porra nenhuma. Mas hoje não faria. A cabeça é outra.
Já saiu no tapa com treinador?
" Cara, uma vez o Evaristo de Macedo me chamou para porrada dentro do vestiário do Maracanã. Não fui porque eu ia matar ele de porrada "
ROMÁRIO: Cara, uma vez o Evaristo de Macedo me chamou para porrada dentro do vestiário do Maracanã. Não fui porque eu ia matar ele de porrada.
E como terminou?
ROMÁRIO: Falei para ele se adiantar. Hoje, é meu amigo. Foi bom treinador, uns dos poucos bons treinadores que tive.
E por que o Evaristo quis brigar?
ROMÁRIO: Agora, não me lembro. Acho que foi alguma coisa que ele falou e eu rebati. Gostava dele. Este problema nos aproximou. Éramos muito francos um com o outro. Ele me xingou muitas vezes e eu xinguei ele também. Mas sem faltar com respeito... (risos)
E como foi que você se aproximou do Eurico Miranda?
ROMÁRIO: Conheci o Eurico quando estava subindo para o time de cima do Vasco. Fui cobrar um dinheiro e ele perguntou se eu estava achando que ele não ia me pagar. E fez um cheque e me deu. Rasguei o cheque e mandei enfiar naquele lugar. Disse que não queria dinheiro dele. Queria o que era meu, o que o Vasco tinha que me pagar... Depois, ficamos amigos.
Hoje, vocês já não são tão próximos...
ROMÁRIO: É verdade. Nossa relação não é mais a mesma. Mas ainda assim tenho um grande respeito por ele.
E a relação com Zico?
ROMÁRIO: A ação dele contra mim continua na Justiça. Mesmo assim, o Zico teve aquele gesto nobre de ter me convidar para a festa que organiza. A gente voltou a se falar. Quando Bebeto saiu do América, chamei o Edu para o lugar dele. Antes liguei para o Zico, para ver se tinha algum problema. Ele disse que não havia problema algum.
Você jogou por mais de 20 anos e hoje é dirigente. Existe armação no futebol?
ROMÁRIO: Você sempre ouve que tem nego que se vende. Sei que deve ser verdade, tanto que a gente já viu vários jogadores envolvidos com máfia de jogos. Teve também o Peru na Copa de 78, contra a Argentina. Mas que tivesse presenciado, nunca. Se visse, seria o primeiro a falar. O cara vai me vender e eu dando minha vida no campo...
Existe droga no futebol?
ROMÁRIO: Cara, acho que droga está em tudo que é lugar, principalmente no esporte. Portanto, no futebol deve ter também. Eu já vi jogadores atuando contra mim, sempre de times pequenos, com atitude que só se explica se estivessem dopados.
Tipo?
ROMÁRIO: De olho aberto, sem piscar, trincando os dentes, correndo 90 minutos. A bola parada e o cara correndo à toa (risos). Tinha uns que falavam coisas em outras línguas.
Já jogou com alguém drogado?
ROMÁRIO: Juro que não.
Nem com cocaína?
ROMÁRIO: Nunca fiquei sabendo. O que tinha no PSV, no inverno de dez graus abaixo de zero, era uma vodca que era servida nos intervalos. Isso cansei de ver. Tentaram me empurrar várias vezes, mas nunca bebi. Mas já vi jogador com problema de joelho fazer infiltração para jogar, para tirar a dor. Mas não sei se isso é se drogar.
E homossexualismo?
ROMÁRIO: Por incrível que pareça, nunca vi nada ou joguei com alguém que tivesse pinta de viado. Já ouvi gente dizer que fulano é viado. Poxa, mas dizer isso é mole, né?
Você já transou com alguma mulher no Maracanã?
ROMÁRIO: Já, no vestiário.
Como é que pode?
ROMÁRIO: Uma vez acabou o jogo, e tive que ficar para o exame de doping. Era um jogo contra o Corinthians, se não me engano, logo que comecei no Vasco. Demorei muito para fazer o xixi. Quando saí do vestiário, uma namorada minha na época estava me esperando. Aí, voltei para o vestiário do Vasco, para tomar banho. Só tinha a minha roupa e um segurança lá na porta. Transei com ela no vestiário do Maracanã.
De chuteiras, uniformizado?
ROMÁRIO: Não, não, já tinha tomado banho (risos).
Já saiu de concentração para ficar com uma mulher?
ROMÁRIO: Já. Na Copa América da Bolívia (1997), dei uma fugida e sai com uma mulher logo depois do primeiro jogo.
E na Copa de 94, como era?
ROMÁRIO: Em 94, não fugi, nunca sai da concentração sem permissão.
E levar mulher?
ROMÁRIO: Não.
Diziam que a comissão técnica preferia que levassem mulheres para a concentração, para evitar fugas. Era liberado das 20h às 22h.
ROMÁRIO: Havia um estacionamento, que esposa, namorada e amigos iam às vezes. Foram umas, duas ou três amigas minhas da época, mas não houve nada. A gente não transou. Mas se tinha folga, saía mesmo.
O ex-atacante Romário, hoje dirigente do América - Cezar Loureiro
Você já fez sexo em grupo?
ROMÁRIO: Comecei a jogar futebol profissional em 1986, com 20 anos. Até os 28, mais ou menos, fiz uma porrada de coisas. Não acho que fossem coisas erradas, mas hoje não faço mais. Esse negócio de suruba, já participei, mas gostava mais de zoar, da sacanagem, do que de participar de corpo e alma (risos).
Então, é verdade que você gostava de reger?
" Esse negócio de suruba, já participei, mas gostava mais de zoar, da sacanagem, do que de participar de corpo e alma (risos) "
ROMÁRIO: Muitas vezes nem participava de verdade. Ficava só botando pilha (risos).
Por que jogador de futebol faz tudo em bando, inclusive sexo?
ROMÁRIO: O assédio é muito grande. É muito fácil pegar mulher. E algumas gostam deste tipo de coisa. É bom fique claro que isso rola no mundo todo, em todos os esportes. Acho que, como o atleta geralmente faz muita coisa em grupo, acaba fazendo sexo também (risos).
Você acompanhou o noticiário sobre o Vágner Love frequentando a Rocinha, e do Adriano, na Chatuba?
ROMÁRIO: Este é um papo bom. Nasci no Jacarezinho. Aliás, hoje todo mundo chama de comunidade, mas prefiro chamar de favela. Acho mais simpático, mais real. Então é o seguinte: sempre que tiver que ir ao Jacarezinho, eu vou. Não tenho mais família lá hoje, mas tenho amigos. Não vou tanto, mas de vez em quando jogo uma pelada lá. Quando quero ouvir um funk, pego os meus amigos e vou ouvir uns funks na favela. Agora, só falo por mim. Eu não bebo, eu não fumo, eu não cheiro, eu não pego em armas de bandido.
O que fizeram é errado?
ROMÁRIO: Não posso falar nada sobre eles. Não acredito em muita coisa que sai na imprensa. Tanto é que tenho certeza de que não vai dar em porra nenhuma.
Quando você vai a favela tem alguma preocupação?
ROMÁRIO: Na hora em que saio do carro, não vai ter padre me esperando, não; nem freira. São os caras que são de lá. O que eles fazem não é problema meu. Ou vocês acham que eu vou pedir para deixarem o fuzil de lado quando se aproximarem de mim? Eu nunca sei quem vai estar me esperando. Mas pode ter certeza, se o cara, com fuzil e cinco pistolas na cintura, pedir para bater uma foto, não tem discussão. Bato dez fotos (risos) e aí eu sei que estas fotos vão parar na internet.
Acha que o Adriano vacilou na história da moto, que estava no nome da mãe de um traficante?
ROMÁRIO: Não sei direito qual é a história e não acredito em tudo o que está no jornal. Oitenta por cento das coisas que saíram sobre Romário nos últimos anos são mentira.
Você acha que jogador tem que dar exemplo, como ídolo?
ROMÁRIO: Quem me conhece sabe que eu sempre falei que não sou exemplo de nada, nem para os meus filhos. Mas como ídolo entendo que tenho que tentar, dentro das minhas possibilidades, fazer as coisas que são maneiras. Agora tem dias, tem horas, que não dá.
Por quê?
ROMÁRIO: Porque antes do ídolo vem o homem. E o jogador é um homem como qualquer outro. O atleta cheirar, fumar, beber muito é ruim. Agora tomar uma cerveja, ficar doidão um dia, claro que pode. Todo mundo pode, por que só o jogador não pode? Isso é uma grande babaquice.
No fim do ano passado, aconteceu de tudo na sua vida. Até preso foi. Como está ela hoje?
ROMÁRIO: Cara, na verdade as notícias que saem não significam que aquilo é a minha vida. Falaram até que andei pedindo esmola, que tive que sair do Golden Green (condomínio em que mora, na Barra da Tijuca) às pressas e ir morar na casa da minha mãe. Hoje, deixo para lá.
Mas, afinal, você está quebrado financeiramente?
ROMÁRIO: As pessoas falam o que vai chamar a atenção, o que vai vender. Dizer que eu estou quebrado vende. Graças a Deus meu dinheiro está bem investido. O que eu ganhei lá fora ficou lá, gasto lá. O que ganho aqui, gasto aqui. Já investi em coisa errada, como no Café do Gol. Me deu prejuízo, assim como no bingo que veio depois do Café do Gol.
Você tem imóveis?
ROMÁRIO: Tenho algumas coisas. O que posso dizer é que a minha vida é tranquila.
O relacionamento com Romarinho e Moniquinha, seus filhos, foi abalado pelo episódio do ano passado, quando você foi preso por causa da pensão?
ROMÁRIO: Claro, que abalou. Não tinha como ser diferente. Afinal, moram com a mãe, né? Mas as coisas vão se ajeitar. Hoje, a Moniquinha tem 20 anos, já é mais adulta, já entende as coisas. O Romarinho tem 15 e até já assinou um contrato de profissional (com o Vasco). Nosso relacionamento não é o ideal atualmente, mas também não precisa ser perfeito. Afinal, todo mundo tem problema. Mas o amor continua, só o que modificou um pouco foi o relacionamento. Não nos vemos mais com tanta frequência. Isso é verdade.
Você e Dunga são bem diferentes, como viraram amigos?
ROMÁRIO: Nós nos conhecemos em 1987 no Vasco. Ali, a gente começou a se respeitar. Eu me lembro que uma vez o time estava levando muito gol e houve uma reunião em São Januário. Roberto e Tita disseram, sem citar meu nome, que havia jogador mais novo que precisava correr mais. Dunga interrompeu e disse que, se o recado era para o Romário, podia deixar que ele (Dunga) correria pelos dois, porque só o Romário é que estava fazendo gol.
E na seleção?
ROMÁRIO: Nossa relação era, como se diz, papo reto. Mas discutimos várias vezes, um xingando o outro. Mas com respeito.
Como é que você vê o trabalho dele na seleção?
ROMÁRIO: Cara, sou suspeito para falar do Dunga, porque, quando o colocaram no cargo, quase todo mundo foi contra. Me orgulho em dizer que eu sempre acreditei. Ele conhece como poucos a seleção.
E o Ronaldinho Gaúcho?
ROMÁRIO: Cara, se o Ronaldo continuar fazendo o que faz no Milan, e a tendência é que ele melhore na Copa, tem que ir. Ronaldinho já sabe o que é perder uma Copa, o que é ganhar uma Copa. Já passou por tudo. Portanto, se eu fosse o Dunga convocaria. Não podemos esquecer que o Kaká está com pubalgia. Se ele não puder contar com o Kaká, ele tem o Ronaldinho. Se o Kaká não tiver problema, ele terá os dois.
Você acha que o Dunga deveria levar alguém da nova safra?
ROMÁRIO: Levaria o Neymar.
Você é um conhecido frasista. Você se arrepende de alguma?
ROMÁRIO: Não.
E qual a que mais gosta?
ROMÁRIO: As que eu achei mais maneiras foram a do Pelé e a do bobo da corte. Reconheço que estava inspirado.
É ensaiado ou sai tudo na hora?
" Meus planos no América são a longo prazo. Já tive convite para trabalhar em outros clubes. Um aqui no Rio, e outro do Nordeste. Não vou falar quais "
ROMÁRIO: Sai na hora. No lance do Pelé, me perguntaram alguma coisa dele, que tinha falado alguma merda sobre mim. Veio na cabeça e mandei: "O Pelé calado é um poeta". Já a do bobo da corte foi depois de um jogo contra o Olaria. O Edmundo tinha falado umas besteiras no jogo anterior, sobre rei e príncipe. Saiu na hora.
Está gostando de ser cartola?
ROMÁRIO: No início só queria ajudar o América, por causa do meu falecido pai. Tomei gosto, me amarrei e hoje acho que vai virar minha profissão. Meus planos no América são a longo prazo. Já tive convite para trabalhar em outros clubes. Um aqui no Rio, e outro do Nordeste. Não vou falar quais.
Por que Bebeto não deu certo como técnico no América?
ROMÁRIO: Porque a gente fez uma programação para o América chegar em determinada situação na Taça Guanabara e ela não foi atingida. Depois do jogo com o Olaria, quando perdemos para um time inferior, disse a ele que, como responsável, não estava satisfeito. Disse que era melhor a gente continuar amigo.
Você acha justo o Bolsa Copa para os campeões do mundo de 1958, 1962 e 1970?
ROMÁRIO: Demorou. Mas deveria ser para todos os campeões mundiais. Não vou dizer nomes, mas tem companheiros meus de 94 que precisam.
Mas, em 94, os jogadores já ganhavam bem.
ROMÁRIO: Presta atenção: ganhar dinheiro a minha geração ganhou, mas, se for botar no papel, a gente ganhou 20%, do que ganham hoje.
Você sempre se colocou ao lado de Pelé e Maradona...
ROMÁRIO: Claro.
São só vocês três?
ROMÁRIO: Não, tem ainda Ronaldo, Zidane e Zico. Coloco o Zico em último porque não ganhou uma Copa. Ele foi o maior jogador que vi atuando por um clube, mas infelizmente, para ele e para o Brasil, não ganhou Copa. Vamos fazer assim: bota o Pelé num patamar superior.
E o Messi, pode se juntar a este grupo?
ROMÁRIO: Pode, mas depois de julho a gente vê.
Fonte: O Globo
O GLOBO: Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
ROMÁRIO: Tive momentos que guardo com muito carinho. O título carioca invicto com o Flamengo em 1996; a final da Copa Mercosul, com o Vasco, quando vencemos o Palmeiras de virada com três gols meus; o título espanhol com o Barcelona. Mas nada supera aquele momento em que o Dunga me passou a taça de campeão do mundo, na Copa de 94. É o fato mais importante da minha vida profissional, o mais feliz.
E o mais triste?
ROMÁRIO: A maior decepção foi o corte em 98. Aquele momento ali, em que eu sentei para dar a coletiva, foi o momento mais triste da minha carreira.
Na época você ficou magoado com o Zico.
ROMÁRIO: Para mim, o maior responsável pelo meu corte era o Zico. Mas passaram anos e, no ano retrasado, ele veio ao Rio e falou um monte de coisas. Abriu o coração. E uma das coisas que ele falou foi que não teve culpa no corte, e que ficou tudo na conta dele. Disse que eu tinha ficado puto com ele sem razão. A partir dali, tirei da minha cabeça que tinha sido o Zico.
Quem foi o responsável?
ROMÁRIO: Quem me tirou daquela Copa foram o Zagallo, que era treinador, o América Faria, o supervisor, e o maior responsável de todos, o Lídio Toledo, que era o médico. Ele tinha que assumir a porra da posição, e mais uma vez não assumiu.
Pode ter alguma coisa a ver com a Copa de 90, quando você levou Nílton Petroni (fisioterapeuta) para a seleção e ele não gostou?
ROMÁRIO: Pode ser, mas a gente conviveu bem depois daquilo. Até o dia anterior ao corte, o Lídio era quem mais me dava força. Acho que não teve voz ativa. Não bateu na mesa e disse que ia me curar a tempo. Em 94, ele falou isso do Branco...
" Em 98, fiquei de fora por causa do corte; em 2002, a razão foi o Felipão ter acreditado em pessoas que garantiram que eu o traí "
Mesmo tendo sido campeão do mundo em 94, você acha que poderia ter feito mais na seleção?
ROMÁRIO: Eu poderia ter disputado mais duas Copas, em 98 e 2002. Em 98, fiquei de fora por causa do corte; em 2002, a razão foi o Felipão ter acreditado em pessoas que garantiram que eu o traí.
O que aconteceu então?
ROMÁRIO: Houve duas histórias. A primeira, da operação na vista, disseram que não queria ir à Copa América (2001). Na verdade, ia operar mesmo, só que, quando o médico Clóvis Munhoz (do Vasco) me levou a um oftalmologista, o cara falou que eu tinha que operar, mas não havia tanta urgência. Então, fiquei treinando. Quando isso aconteceu, a seleção já tinha viajado.
E a outra...
ROMÁRIO: A outra história foi que eu tinha transado com uma aeromoça antes do jogo com o Uruguai, pelas eliminatórias, em Montevidéu. Aliás, foi o único jogo que fiz pela seleção com o Felipão.
Romário disse que o melhor momento da sua carreira foi o título mundial de 1994 - Cezar Loureiro
Mas você pegou a aeromoça?
ROMÁRIO: Isso foi em 2002 e hoje estamos em 2010. Poderia muito bem falar que tinha acontecido. Mas não aconteceu. Se fiquei de fora da Copa por causa disso, perdi duas vezes. Não fui à Copa e não comi a aeromoça, que era a maior gostosa...
Como foi a sua relação com os técnicos durante a carreira?
ROMÁRIO: Cara, tive muitos problemas com alguns treinadores, mas não tive com outros. Por exemplo, com Cruyff não tive porra nenhuma de problema. Com o Joel, nunca tive problema. Também não tive com Oswaldo (Oliveira), Edinho, Júnior. Com o próprio Parreira...
Mas qual foi o mais difícil, aquele que quase te fez chutar o balde?
ROMÁRIO: Teve o Gílson Nunes, que me cortou da seleção sub-20 antes do Mundial de 85. Ele não foi firme comigo. Confiou num papo de um supervisor. O cara entrou numa sala no hotel em que estávamos concentrados em Copacabana. Eu, Müller e Denílson estávamos realmente mexendo com as meninas que passavam lá embaixo. O tal supervisor deu o flagrante no Denílson e no Müller, pois eu estava no banheiro na hora. No fim, só eu fui cortado da seleção.
E o Vanderlei Luxemburgo?
ROMÁRIO: Foram apenas seis meses de relacionamento. Ali a gente errou por igual. Eu estava voltando ao Rio, tinha sido campeão do mundo. Tinha 28 anos e achava que podia tudo. E o Vanderlei, já naquela época, se achando o melhor técnico do mundo. Ele queria me confrontar. Queria aparecer mais do que algumas pessoas, no caso eu. Tivemos um comportamento egoísta. Ele se prejudicou, eu me prejudiquei e acabamos prejudicando o Flamengo.
E qual foi seu pior treinador?
" Ele não sabia de tática, ele não sabia de técnica, ele não sabia dar uma preleção. Ele se perdia, escalava os jogadores errados "
ROMÁRIO: Cláudio Garcia. Esse treinador é uma merda. Desculpe a expressão, até tinha prometido a minha mulher que não ia falar palavrão, mas não aguento. Era uma merda.
Por quê?
ROMÁRIO: Porque ele não sabia de tática, ele não sabia de técnica, ele não sabia dar uma preleção. Ele se perdia, escalava os jogadores errados.
Você fez amigo no futebol?
ROMÁRIO: Amigo, na minha concepção, é aquele cara que está próximo de você, não precisa nem ser no dia a dia. As pessoas com quem mais me relaciono são jogadores da antiga do Vasco: Mauricinho, Geovani, Paulo Roberto, Lira e também o Mazinho. Hoje tem o Léo Moura, o Leonardo Inácio, o Bruno Reis e o Alex Dias.
É difícil fazer amigo no futebol?
ROMÁRIO: Olha, para ser sincero, amigo mesmo não fiz no futebol. Aliás, Celso Barros foi o único cara que conheci no futebol e virou meu amigo.
Por que é assim?
ROMÁRIO: Porque no futebol as pessoas têm sempre um interesse que você não consegue visualizar de cara. Ninguém procura, na pureza, ser seu amigo. Quando você está em cima, no topo, a maioria das pessoas se aproxima com algum tipo de interesse. Muitos chegaram sem interesse, mas nem por isso se tornaram meus amigos.
Você já brigou com alguma companheiro de time?
ROMÁRIO: Claro. Teve aquela briga com o Andrei (zagueiro do Fluminense) dentro de campo contra o São Paulo. Também sai na porrada com Júnior Baiano, Jorge Luís, Ronaldão, Sávio e Edmundo...
Saiu no tapa com todos eles?
ROMÁRIO: É. Com o Edmundo nunca foi de mão, não.
Como foi a briga com o Sávio?
ROMÁRIO: Eu o empurrei, dei um tapa nele e ficou por isso mesmo. Com Jorge Luís, briguei no vestiário. Também foi assim com Júnior Baiano e com o Ronaldão... Só arrumei porrada ruim para mim: Jorge Luís, Júnior Baiano, Ronaldão (risos), esses são os caras...
E qual a razão destas brigas?
ROMÁRIO: Estresse, cabeça quente. Nem sei se todas foram depois de derrota. Mas hoje com certeza não faria. Se você perguntar se me arrependo, a resposta é não. Não me arrependo de porra nenhuma. Mas hoje não faria. A cabeça é outra.
Já saiu no tapa com treinador?
" Cara, uma vez o Evaristo de Macedo me chamou para porrada dentro do vestiário do Maracanã. Não fui porque eu ia matar ele de porrada "
ROMÁRIO: Cara, uma vez o Evaristo de Macedo me chamou para porrada dentro do vestiário do Maracanã. Não fui porque eu ia matar ele de porrada.
E como terminou?
ROMÁRIO: Falei para ele se adiantar. Hoje, é meu amigo. Foi bom treinador, uns dos poucos bons treinadores que tive.
E por que o Evaristo quis brigar?
ROMÁRIO: Agora, não me lembro. Acho que foi alguma coisa que ele falou e eu rebati. Gostava dele. Este problema nos aproximou. Éramos muito francos um com o outro. Ele me xingou muitas vezes e eu xinguei ele também. Mas sem faltar com respeito... (risos)
E como foi que você se aproximou do Eurico Miranda?
ROMÁRIO: Conheci o Eurico quando estava subindo para o time de cima do Vasco. Fui cobrar um dinheiro e ele perguntou se eu estava achando que ele não ia me pagar. E fez um cheque e me deu. Rasguei o cheque e mandei enfiar naquele lugar. Disse que não queria dinheiro dele. Queria o que era meu, o que o Vasco tinha que me pagar... Depois, ficamos amigos.
Hoje, vocês já não são tão próximos...
ROMÁRIO: É verdade. Nossa relação não é mais a mesma. Mas ainda assim tenho um grande respeito por ele.
E a relação com Zico?
ROMÁRIO: A ação dele contra mim continua na Justiça. Mesmo assim, o Zico teve aquele gesto nobre de ter me convidar para a festa que organiza. A gente voltou a se falar. Quando Bebeto saiu do América, chamei o Edu para o lugar dele. Antes liguei para o Zico, para ver se tinha algum problema. Ele disse que não havia problema algum.
Você jogou por mais de 20 anos e hoje é dirigente. Existe armação no futebol?
ROMÁRIO: Você sempre ouve que tem nego que se vende. Sei que deve ser verdade, tanto que a gente já viu vários jogadores envolvidos com máfia de jogos. Teve também o Peru na Copa de 78, contra a Argentina. Mas que tivesse presenciado, nunca. Se visse, seria o primeiro a falar. O cara vai me vender e eu dando minha vida no campo...
Existe droga no futebol?
ROMÁRIO: Cara, acho que droga está em tudo que é lugar, principalmente no esporte. Portanto, no futebol deve ter também. Eu já vi jogadores atuando contra mim, sempre de times pequenos, com atitude que só se explica se estivessem dopados.
Tipo?
ROMÁRIO: De olho aberto, sem piscar, trincando os dentes, correndo 90 minutos. A bola parada e o cara correndo à toa (risos). Tinha uns que falavam coisas em outras línguas.
Já jogou com alguém drogado?
ROMÁRIO: Juro que não.
Nem com cocaína?
ROMÁRIO: Nunca fiquei sabendo. O que tinha no PSV, no inverno de dez graus abaixo de zero, era uma vodca que era servida nos intervalos. Isso cansei de ver. Tentaram me empurrar várias vezes, mas nunca bebi. Mas já vi jogador com problema de joelho fazer infiltração para jogar, para tirar a dor. Mas não sei se isso é se drogar.
E homossexualismo?
ROMÁRIO: Por incrível que pareça, nunca vi nada ou joguei com alguém que tivesse pinta de viado. Já ouvi gente dizer que fulano é viado. Poxa, mas dizer isso é mole, né?
Você já transou com alguma mulher no Maracanã?
ROMÁRIO: Já, no vestiário.
Como é que pode?
ROMÁRIO: Uma vez acabou o jogo, e tive que ficar para o exame de doping. Era um jogo contra o Corinthians, se não me engano, logo que comecei no Vasco. Demorei muito para fazer o xixi. Quando saí do vestiário, uma namorada minha na época estava me esperando. Aí, voltei para o vestiário do Vasco, para tomar banho. Só tinha a minha roupa e um segurança lá na porta. Transei com ela no vestiário do Maracanã.
De chuteiras, uniformizado?
ROMÁRIO: Não, não, já tinha tomado banho (risos).
Já saiu de concentração para ficar com uma mulher?
ROMÁRIO: Já. Na Copa América da Bolívia (1997), dei uma fugida e sai com uma mulher logo depois do primeiro jogo.
E na Copa de 94, como era?
ROMÁRIO: Em 94, não fugi, nunca sai da concentração sem permissão.
E levar mulher?
ROMÁRIO: Não.
Diziam que a comissão técnica preferia que levassem mulheres para a concentração, para evitar fugas. Era liberado das 20h às 22h.
ROMÁRIO: Havia um estacionamento, que esposa, namorada e amigos iam às vezes. Foram umas, duas ou três amigas minhas da época, mas não houve nada. A gente não transou. Mas se tinha folga, saía mesmo.
O ex-atacante Romário, hoje dirigente do América - Cezar Loureiro
Você já fez sexo em grupo?
ROMÁRIO: Comecei a jogar futebol profissional em 1986, com 20 anos. Até os 28, mais ou menos, fiz uma porrada de coisas. Não acho que fossem coisas erradas, mas hoje não faço mais. Esse negócio de suruba, já participei, mas gostava mais de zoar, da sacanagem, do que de participar de corpo e alma (risos).
Então, é verdade que você gostava de reger?
" Esse negócio de suruba, já participei, mas gostava mais de zoar, da sacanagem, do que de participar de corpo e alma (risos) "
ROMÁRIO: Muitas vezes nem participava de verdade. Ficava só botando pilha (risos).
Por que jogador de futebol faz tudo em bando, inclusive sexo?
ROMÁRIO: O assédio é muito grande. É muito fácil pegar mulher. E algumas gostam deste tipo de coisa. É bom fique claro que isso rola no mundo todo, em todos os esportes. Acho que, como o atleta geralmente faz muita coisa em grupo, acaba fazendo sexo também (risos).
Você acompanhou o noticiário sobre o Vágner Love frequentando a Rocinha, e do Adriano, na Chatuba?
ROMÁRIO: Este é um papo bom. Nasci no Jacarezinho. Aliás, hoje todo mundo chama de comunidade, mas prefiro chamar de favela. Acho mais simpático, mais real. Então é o seguinte: sempre que tiver que ir ao Jacarezinho, eu vou. Não tenho mais família lá hoje, mas tenho amigos. Não vou tanto, mas de vez em quando jogo uma pelada lá. Quando quero ouvir um funk, pego os meus amigos e vou ouvir uns funks na favela. Agora, só falo por mim. Eu não bebo, eu não fumo, eu não cheiro, eu não pego em armas de bandido.
O que fizeram é errado?
ROMÁRIO: Não posso falar nada sobre eles. Não acredito em muita coisa que sai na imprensa. Tanto é que tenho certeza de que não vai dar em porra nenhuma.
Quando você vai a favela tem alguma preocupação?
ROMÁRIO: Na hora em que saio do carro, não vai ter padre me esperando, não; nem freira. São os caras que são de lá. O que eles fazem não é problema meu. Ou vocês acham que eu vou pedir para deixarem o fuzil de lado quando se aproximarem de mim? Eu nunca sei quem vai estar me esperando. Mas pode ter certeza, se o cara, com fuzil e cinco pistolas na cintura, pedir para bater uma foto, não tem discussão. Bato dez fotos (risos) e aí eu sei que estas fotos vão parar na internet.
Acha que o Adriano vacilou na história da moto, que estava no nome da mãe de um traficante?
ROMÁRIO: Não sei direito qual é a história e não acredito em tudo o que está no jornal. Oitenta por cento das coisas que saíram sobre Romário nos últimos anos são mentira.
Você acha que jogador tem que dar exemplo, como ídolo?
ROMÁRIO: Quem me conhece sabe que eu sempre falei que não sou exemplo de nada, nem para os meus filhos. Mas como ídolo entendo que tenho que tentar, dentro das minhas possibilidades, fazer as coisas que são maneiras. Agora tem dias, tem horas, que não dá.
Por quê?
ROMÁRIO: Porque antes do ídolo vem o homem. E o jogador é um homem como qualquer outro. O atleta cheirar, fumar, beber muito é ruim. Agora tomar uma cerveja, ficar doidão um dia, claro que pode. Todo mundo pode, por que só o jogador não pode? Isso é uma grande babaquice.
No fim do ano passado, aconteceu de tudo na sua vida. Até preso foi. Como está ela hoje?
ROMÁRIO: Cara, na verdade as notícias que saem não significam que aquilo é a minha vida. Falaram até que andei pedindo esmola, que tive que sair do Golden Green (condomínio em que mora, na Barra da Tijuca) às pressas e ir morar na casa da minha mãe. Hoje, deixo para lá.
Mas, afinal, você está quebrado financeiramente?
ROMÁRIO: As pessoas falam o que vai chamar a atenção, o que vai vender. Dizer que eu estou quebrado vende. Graças a Deus meu dinheiro está bem investido. O que eu ganhei lá fora ficou lá, gasto lá. O que ganho aqui, gasto aqui. Já investi em coisa errada, como no Café do Gol. Me deu prejuízo, assim como no bingo que veio depois do Café do Gol.
Você tem imóveis?
ROMÁRIO: Tenho algumas coisas. O que posso dizer é que a minha vida é tranquila.
O relacionamento com Romarinho e Moniquinha, seus filhos, foi abalado pelo episódio do ano passado, quando você foi preso por causa da pensão?
ROMÁRIO: Claro, que abalou. Não tinha como ser diferente. Afinal, moram com a mãe, né? Mas as coisas vão se ajeitar. Hoje, a Moniquinha tem 20 anos, já é mais adulta, já entende as coisas. O Romarinho tem 15 e até já assinou um contrato de profissional (com o Vasco). Nosso relacionamento não é o ideal atualmente, mas também não precisa ser perfeito. Afinal, todo mundo tem problema. Mas o amor continua, só o que modificou um pouco foi o relacionamento. Não nos vemos mais com tanta frequência. Isso é verdade.
Você e Dunga são bem diferentes, como viraram amigos?
ROMÁRIO: Nós nos conhecemos em 1987 no Vasco. Ali, a gente começou a se respeitar. Eu me lembro que uma vez o time estava levando muito gol e houve uma reunião em São Januário. Roberto e Tita disseram, sem citar meu nome, que havia jogador mais novo que precisava correr mais. Dunga interrompeu e disse que, se o recado era para o Romário, podia deixar que ele (Dunga) correria pelos dois, porque só o Romário é que estava fazendo gol.
E na seleção?
ROMÁRIO: Nossa relação era, como se diz, papo reto. Mas discutimos várias vezes, um xingando o outro. Mas com respeito.
Como é que você vê o trabalho dele na seleção?
ROMÁRIO: Cara, sou suspeito para falar do Dunga, porque, quando o colocaram no cargo, quase todo mundo foi contra. Me orgulho em dizer que eu sempre acreditei. Ele conhece como poucos a seleção.
E o Ronaldinho Gaúcho?
ROMÁRIO: Cara, se o Ronaldo continuar fazendo o que faz no Milan, e a tendência é que ele melhore na Copa, tem que ir. Ronaldinho já sabe o que é perder uma Copa, o que é ganhar uma Copa. Já passou por tudo. Portanto, se eu fosse o Dunga convocaria. Não podemos esquecer que o Kaká está com pubalgia. Se ele não puder contar com o Kaká, ele tem o Ronaldinho. Se o Kaká não tiver problema, ele terá os dois.
Você acha que o Dunga deveria levar alguém da nova safra?
ROMÁRIO: Levaria o Neymar.
Você é um conhecido frasista. Você se arrepende de alguma?
ROMÁRIO: Não.
E qual a que mais gosta?
ROMÁRIO: As que eu achei mais maneiras foram a do Pelé e a do bobo da corte. Reconheço que estava inspirado.
É ensaiado ou sai tudo na hora?
" Meus planos no América são a longo prazo. Já tive convite para trabalhar em outros clubes. Um aqui no Rio, e outro do Nordeste. Não vou falar quais "
ROMÁRIO: Sai na hora. No lance do Pelé, me perguntaram alguma coisa dele, que tinha falado alguma merda sobre mim. Veio na cabeça e mandei: "O Pelé calado é um poeta". Já a do bobo da corte foi depois de um jogo contra o Olaria. O Edmundo tinha falado umas besteiras no jogo anterior, sobre rei e príncipe. Saiu na hora.
Está gostando de ser cartola?
ROMÁRIO: No início só queria ajudar o América, por causa do meu falecido pai. Tomei gosto, me amarrei e hoje acho que vai virar minha profissão. Meus planos no América são a longo prazo. Já tive convite para trabalhar em outros clubes. Um aqui no Rio, e outro do Nordeste. Não vou falar quais.
Por que Bebeto não deu certo como técnico no América?
ROMÁRIO: Porque a gente fez uma programação para o América chegar em determinada situação na Taça Guanabara e ela não foi atingida. Depois do jogo com o Olaria, quando perdemos para um time inferior, disse a ele que, como responsável, não estava satisfeito. Disse que era melhor a gente continuar amigo.
Você acha justo o Bolsa Copa para os campeões do mundo de 1958, 1962 e 1970?
ROMÁRIO: Demorou. Mas deveria ser para todos os campeões mundiais. Não vou dizer nomes, mas tem companheiros meus de 94 que precisam.
Mas, em 94, os jogadores já ganhavam bem.
ROMÁRIO: Presta atenção: ganhar dinheiro a minha geração ganhou, mas, se for botar no papel, a gente ganhou 20%, do que ganham hoje.
Você sempre se colocou ao lado de Pelé e Maradona...
ROMÁRIO: Claro.
São só vocês três?
ROMÁRIO: Não, tem ainda Ronaldo, Zidane e Zico. Coloco o Zico em último porque não ganhou uma Copa. Ele foi o maior jogador que vi atuando por um clube, mas infelizmente, para ele e para o Brasil, não ganhou Copa. Vamos fazer assim: bota o Pelé num patamar superior.
E o Messi, pode se juntar a este grupo?
ROMÁRIO: Pode, mas depois de julho a gente vê.
Fonte: O Globo
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